Na clínica é muito comum ouvirmos falar sobre as intermináveis noites sem dormir.
O que nos desperta no meio da noite?
São pesadelos de medos contidos nos gritos que não nos permitimos bradar.
São forças que tensionam o nosso ser até que no meio da noite nada mais nos reste do que ter pálpebras arregaçadamente abertas para fora do conforto de nossos sonhos.
Quiçá sejam dores causadas por moléstias ímpares impostas de fora para dentro capazes de nos subtrair o repouso regenerador tão necessário à cura.
Não raro é apenas um boleto não pago ou uma nota não alcançada.
As vezes são vozes da nossa cabeça que não se aquietam por termos ficado quietos demais quando o ímpeto defensor era de ter transbordado verborragicamente aquela situação transgressora.
Fato é que, em qualquer que seja a situação em que nos descobrimos alertas durante a noite, o que nos está sendo imposto é quase que invariavelmente a privação de um sonho.
Quando somos desviados daquilo que almejamos, lutamos para alcançar ou mesmo quando nos pegamos silenciados em relação ao que pensamos, ou pior sentimos, o nosso ser se põe em alerta. Não há ordem de descanso para quem está em risco.
Mas qual é o risco real?
Em vez de ficarmos alimentando nossos pesadelos talvez caiba a possibilidade de acolhermos o que se feriu em nós com a certeza de que o sonhar é a nossa ferramenta de manejo mais poderosa. A única capaz abrandar os corações aflitos e nos fazer repousar no leito confortável da promessa de dias melhores.
É a pedra fundamental na construção de realidades mais amigáveis e o único instrumento sempre disponível ao alcance dos desesperados não por representar, como se diz por aí, a fuga da concretude dos nossos problemas, mas por ser concretamente o exercício da esperança motivadora.
Assim, por dias melhores, que possamos nos convencer de que mesmo que hoje não tenha sido possível fazer tudo o que era preciso, o melhor que ainda nos resta fazer é sonhar as possibilidades do dia de amanhã. E se o sono não vier que o lampejo de consciência seja oníricamente reparador para que de fato não venhamos a correr o risco de nos perdermos de nós mesmos.
Bons sonhos!
Karina Zapater
Psicóloga
CRP 06/184974